"Meu grito foi tão abafado que só pelo silêncio contrastante percebi que não havia gritado. O grito ficara me batendo dentro do peito”. C.L.

sábado, 18 de julho de 2009

tenho constantemente buscado entre antigos cadernos e recortes algum indício do que me compunha. qualquer poeirinha que bata na minha porta dizendo "oi, um dia você me abraçou e em meio à lágrimas secas de silêncio e dúvidas jurou-me ser para sempre". há meses durmo e acordo nessa rotina que roubou-me meio ano (ou meia vida), e hoje cutuca e arranha-me a garganta essa sensação antiga de estar sendo outra pessoa. não é que eu finja, passa longe da falsidade. mas acho que fugi de mim. de novo.tenho constantemente cantado músicas antigas e respirado versos de outros dias, tentando em vão encontrar aquela poesia perdida em alguma esquina de outra vida. a que sempre chegava atrasada, mas trazia na bolsa a palavra exata, que eu só perceberia ser a certa tempos depois. e por mais que me largasse sempre insatisfeita e insuficiente, era ampla e pura, jogava entre linhas meu coração e livrava-me por alguns minutos de peso que era carregar-me no fundo dos olhos. porque apesar de toda a dor e todas as noites em claro chorando seco no chão frio da solidão de um quarto, eu me dava ao máximo. doava cada milímetro de um coração fraco e perdido a qualquer coisa em que eu acreditasse, a qualquer estrela que possuísse um brilho diferente. e aquela intensidade toda que arranhava e aos poucos corroía, hoje me faz imensa falta. talvez eu nunca soube viver o morno. do oitenta fugi para o oito, com um sorriso estampado no coração e alegando saber viver de novo. gritei e tatuei na minha testa que estava aprendendo a viver. me encontrando, aprendendo a ser. foi então que me perdi.e não é que faria sentido se toda aquela busca interminável e massante ocorresse novamente. não é que eu ainda procure a resposta exata e a razão de estar onde estou. mas sinto falta de um sentido. da roda que me empurraria para algum lugar. ou da busca por algo, ainda que singela. sinto falta de mim. de me ler, de me escrever. de me expôr nua e crua num papel qualquer e depois esquecê-lo numa gaveta, (des)propositalmente. sinto falta do silêncio de uma madrugada inteira, de fechar os olhos e ainda assim continuar enxergando. no medo de olhar mais uma vez demais para dentro, abri os olhos sem fechá-los novamente. e hoje me sinto perdida buscando e me perdendo por entre escritos e recortes e guardados antigos. como se separassem-me em duas. nostálgica por antecipação. inventando histórias e sonhando pouco, quem sabe tento pintar em cima de um pozinho de ausência que restou. ?

domingo, 12 de julho de 2009

"talvez chegaste quando eu te sonhava..."

Talvez seja mais fácil depositar toda a culpa e essa incerteza cansativa, nas circustâncias. No erro ou na perfeição do tempo. Se eu acreditar que fiz parte de um dia teu não programado, de um ontem que chegou mais tarde, quem sabe assim eu possa entender e aceitar, e enfim seguir em frente. Ou talvez seja apenas mais uma desculpa que eu encontrei.O fato é que não importa quantos dias passem, pois mesmo que as decepções sejam somadas a novos sóis, tua estrela insiste em brilhar mais forte. E "nada no mundo cega mais que o teu nome". Porque mesmo sem saber, te criei e com toda certeza acreditei em ti, sem pestanejar.
Mas já não sei (e na verdade nunca soube), se a culpa disso tudo foi minha, e dessa minha mania de me jogar de cabeça em tudo o que não é certo, ou se foi algo muito maior do que isso. Mesmo que eu não acredite, no fundo qualquer um tropeça na idéia de um sonho.Talvez seja exatamente isso que signifiques. E toda essa intensidade deva-se ao fato de que encaixas em todas as minhas exigências e todas as minhas vontades, como se fosses o encaixe perfeito de um sonho, ou talvez o sonho que eu encaixei ao teu redor, quando a vida andava sem andar e meus olhos não sabiam o que fazer. Nesse momento te vi, e acho que acabei acreditando.
Porque logo acreditei, com todo esse meu coração frágil que no fundo ainda acredita em qualquer coisa bonita que venham lhe oferecer, então sem tempo nem disposição para refletir, joguei-me de cabeça no jogo que criei. E todas as minhas expectativas foram entao derrubadas pelo sorriso da alma nao retribuído, pois nem parte da minha vida fazias. E como criança teimosa, meu coração insiste em acreditar nesse sonho que criou e depositou em ti. Nao faço parte da tua vida e nem ao menos sei teu jeito, teu olhar não encontra o meu, mas então por que essa certeza de que fazes tão parte de mim quanto a mais antiga lembrana que tenho de tempos em que tudo ainda fazia algum sentido? E por que essa sensação densa de que ainda há algo para ser vivido?Não posso mais deixar que me invadas desse jeito e abales todas as estruturas que minuciosamente vou construíndo, com todo o cuidado e preocupação de que preciso. Não é nada fácil estabilizar-me desse jeito, plena de qualquer outra coisa. Não me faz mais esperar que esse sentido esteja em ti. Não quero mais acreditar.