"Meu grito foi tão abafado que só pelo silêncio contrastante percebi que não havia gritado. O grito ficara me batendo dentro do peito”. C.L.

domingo, 16 de novembro de 2008

Mudar?





(11/11)

Começar a me alimentar do que é real. Mesmo sem saber de que esse real seria feito. Nunca foi preciso muito mais do que uma dose de coragem para colocar o primeiro pé pra fora da porta de casa. (Mas como fazer se não se ve portas nem janelas?)

Pra fora da porta do coração, sempre tão trancado, tão contido. Por quê? Não que ainda realmente importe. Não que um dia tenha sido muito mais do que o turbilhão interno. Furacão congelado, inércia acelerada, que se danem as metáforas meticulosamente arranjadas e as palavras com um milhão de sentidos nas costas. Eu quero vida. Quero mais sorrisos. Minha sede de calor e movimento nao sacia fácil não. Se o mundo anda meio frio e o sol resiste em aparecer; corro. Mas dessa vez não é mais de mim mesma. De que adianta? Se correndo de mim mesma, mergulhei e afundei cada vez mais no poço de mim que era e não queria? Se minha insistência em juntar mil palavras e mil luas, única fonte de esperança - e me atrevo a dizer, de razão, motivo, e quem sabe até resposta -, com o intuito desesperado de gritar, resultava sempre em silêncio? Como pude ser tão cega, surda, muda, a ponto de não perceber que minhas palavras sempre foram resultado do medo desnorteado que tenho de falar? Nunca entendi que gritar através do aparente conforto das palavras, por mais profundo e sincero que fosse, só me fazia afundar mais e mais no meu poço de silêncio. Nunca aceitei. Como se faz pra mudar?

quarta-feira, 6 de agosto de 2008


joga um pouco de tudo o que há de mais forte no mundo sobre a minha cabeça. não é egoísmo, não pode ser, não peço muito mais que um pouco só. pra tirar da minha boca esse gosto marrom sujo podre e seco de imobilidade, inutilidade, insuficiência, não quero nada não, não peço muito mais que um pouco de terremoto em volta de mim, para variar. um meteoro caindo aqui e ali de vez em quando, quem sabe. ou simplesmente a minha cabeça. caindo aqui e ali, sendo forte, sumindo.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Foi mais uma história jogada fora. Folha perdida no vento, aos poucos virou pó sob os olhos inexistentes de alguém que quisesse ver. Tempo?
Minha vida de livro aberto durou pouco, a simplicidade do caminhar leve e do sorriso sem culpa partiu levando consigo o conforto que nunca existiu. Pelo medo da imobilidade, permaneci cada vez mais imóvel. Pelo susto e anseio de ser, fui cada vez mais. Mais ausência de mim mesma?
Minha mente acelera de tal forma, que o que por natureza localiza-se abaixo dela não é capaz de sentir. Incompatibilidade dói. Enquanto esses pensamentos voam em segundos e alcançam pontos inimagináveis, permaneço parada. Como pode haver um jeito de saber tanta coisa sem de fato compreender nada?
Ganho horas olhando a enormidade de um céu que, apenas por colorir-se de cinza nos dias difíceis, já foi acusado de culpa por tanta coisa, inclusive vinda de mim. Hoje sinto um mundo por trás dele mais amplo do que o que existe no azul. Pois se o que existe pra mim está lá fora, não é olhando pro que é concreto e seco que conseguirei mudar. De tanto que já pedi por essa concretude de tudo, não a quero mais, não suporto a idéia das coisas serem aquilo e ponto, sem mundos por trás, sem fantasias, sem pensamentos ou corações. Aprendi a gostar do que não existe, para talvez poder gostar do que mora dentro de mim.
As pessoas vão procurando, tentando entender cada vez mais, perdendo dias e perdendo vidas em busca de algo que não pode ser encontrado se quisermos que a vida continue a sorrir. E se tivéssemos as respostas de tudo?
Não sei, tão frio... não quero mais, ao menos hoje. Que não me doa hoje o medo de que o medo de alguma ausência possa me impedir de olhar para além de mim. Que não me assuste o fato de que sou e não sei nada sobre isso, e que eu saiba alimentar-me dessa busca eterna e constante sempre sem respostas sem necessariamente sentir fome o tempo todo. Mas que a fome não suma para que eu não me acostume a não saber. Que eu entenda hoje e sempre que não entender é uma dádiva para poucos. Ter a consciência transparente de que há muito para ser compreendido e conhecido, e de que é tudo inalcançável. E que essa beleza e essa doçura das coisas não me corroa mais. Que eu possa sentir o frio sem chorar, mas que as lágrimas caiam vez em quando. Que elas não me deixem só.

terça-feira, 29 de julho de 2008



Não é mais tão fácil como foi um dia. Pego o papel e o lápis e todas as frases que surgiram durante o dia se dissipam. Talvez se eu não tivesse dissolvido-as ao sorrir e esconder o choro no instante em que os olhos secaram. Adjetivos e metáforas não são mais suficientes. O nó na garganta sumiu e não deixou nada em seu lugar.
Essa trava que me impede de sair aqui de dentro. Vejo o mundo lá fora com a mesma consciência de que meus pés não poderiam mais sair do lugar no momento em que eu suplicasse por movimento. E mesmo que saíssem, será que faria diferença? De que adianta andar por fora se o que tem dentro continua obscuro e inatingível?
Sei que as coisas são assim mesmo. Só que hoje não quero aceitar.
Largo histórias sem fim no banco da praça e deixo que a chuva leia. Se ela não gostar o vento devora, ou o tempo faz sumir.

Tentar transferir para a razão seca ao colorir com palavras infinitas a névoa cinza de dentro.
Nem isso conforta como ontem.


domingo, 20 de julho de 2008



Meu coração acelerado, já não sei ao certo se por excesso de pulso ou por falta. Não sei porque não compreendo nem identifico nada do que insiste em viver nesse meu interior tão antigo, tão cansado, tão vivido. Nesse eu que é ainda tão novo e tão recente. Meu coração acelerado, minha voz falha aos poucos, talvez algum dia eu encontre alguma espécie de força em meio a toda essa fraqueza, talvez um dia a fragilidade surja por debaixo dos destroços que ela mesma encarregou-se de destruir e agrupar, como num castelo um tanto quanto mórbido. Quem sabe um dia eu consiga parar de dar vida a todos esses sentimentos, fugindo do peso de ser ao atribuir-lhes tamanho significado e responsabilidade.
Meu coração acelerado, minha voz já se calou, minha garganta aos poucos seca depois de tantas lágrimas engolidas a força. Tantos fatos banais corrompendo-se e transformando-se em erros irremediáveis, sem que se pudesse evitar, se que se pudesse enxergar. Motivo, razão, solução, nada chegou a vir. Ou veio, e resolveu partir quando mais uma vez eu não pude enxergar.
Diante de tamanha imensidão da vida, do mundo, e da amplitude de tudo o que há lá fora - seja fora de mim, do meu círculo ou do meu mundo – diante de tamanha incompreensão indefinida, mais uma vez essa tristeza, tão premeditada, tão instável, tão mutante a ponto de ser sempre a mesma, toma a dianteira e me rouba todas as forças que ainda restavam escondidas em algum lugar de mim, prematuro, ainda invisível pros meus olhos de gelo.
Meu coração acelerado aos poucos começa a parar, minha voz já não tem força alguma para gritar, minha garganta e meus olhos secos não transbordam mais a secura da inundação interior, meus olhos, cansados de olhar para dentro, fecham-se por desistência.
Não desisti de lutar, ainda não. Mas é que hoje estou tão cansada...
Só quero poder deitar minha cabeça e descansar, ao menos o exterior, fechar os olhos e simplesmente esperar passar. Como se houvesse alguma coisa simples por aqui.

(espaço para reticências e um vazio indizível)

quinta-feira, 10 de julho de 2008


Escuta, coração, que as coisas não precisavam ter sido tão tristes. Mas transbordas nos olhos até quando eu rio. Rio de lágrimas não cola mais, clichês nunca foram suficientes. Hoje em dia dão nojo.
Escuta, minha angústia, nunca deverias ter dado tanto espaço pra tristeza. Proclamá-la estado de alma, fincar o rótulo na pele gasta, só lhe traz forças e lhe dá espaço para expansão. E quando a guerra tomar poder e apoio suficiente da população de sentimentos insatisfeitos, não haverá resistência à altura para que voltes a te comandar.
Ouve o grito que não tivesses coragem de dar, coração. Proclama teu amor ao mundo ainda que ele, tão incerto, tão covarde, não saiba ao certo onde criar raízes. Larga essa tua vida teórica e efetiva-a. Vive. Só depende de ti, coração.
Tenha medo e até me tome mais tempo, faça o que fizer, só por favor não se cale. Tua voz é minha voz, teu apoio, único e constante. E mesmo que muitas vezes fraco, é o responsável por me manter em pé. Tua essência é minha essência, e o teu coração...
Ah... Como insiste em ser triste.

sábado, 21 de junho de 2008


Andando sozinha por aquela rua desenhada em cores de outono, alheia à chuva que aumentava e à noite que rompia o silencio da movimentação exterior, ela pôde parar e esboçar um sorriso, sem medo de quebrar o movimento, sem medo de parecer tola, seu sorriso ia crescendo à medida que a chuva aumentava, porque quando o céu escorria em lágrimas a perplexidade por poder ver o mundo inteiro, de cima, tal como ele é, limpava-lhe a alma e deixava-a livre para sorrir, não que estivesse feliz, também já não estava mais perdida, nada chegava a fazer sentido e ela finalmente sentia-se serena, parada ali na chuva, sorrindo, besteira, o tempo passava, os rostos mudavam, a chuva diminuía e abria espaço para o vento frio e cortante, ela, porém, não sabia como se movimentar, não que seus pés estivessem atados ao chão, não que estivesse com frio, mas tinha medo que um movimento brusco pudesse interromper o – agora já antigo- ímpeto de sorrir, e além disso não sabia para onde direcionar seus pés, não acreditava mais na força que poderiam ter os pés que ela já não enxergava pois não conseguia movimentar a cabeça, quem sabe com um pouco de esforço conseguisse até se mexer, mas não ousaria, há tanto tempo não ousava, seus olhos focados, afogados em um ponto indefinido, tomados pelo susto da situação, inertes por um brilho estático que há muito ela acreditava ter partido, os rostos já não passavam, a chuva cessara e transferira-se para dentro de seu corpo, não que ela chorasse, desaprendera a arte, e de repente o vento soprou um pouco mais forte, mudou de direção e ela pôde andar, o sol nascia escondido por trás de tantas nuvens, não apareceria o dia inteiro, ela bem sabia, mas já conseguia andar pela rua deserta desenhada de medo, parecia ter fome, andando sozinha pela crueza de si mesma, sem ver o sol, sem sentir.

terça-feira, 10 de junho de 2008


"Ah, se fosse como a gente quer...
Ah, e se o planeta explodir, eu quero que seja em plena manhã de domingo, e que eu possa assistir."

Não sou de sair gritando por aí, embora minha alma quisesse vez ou outra expandir ao máximo a agonia de ser tudo e não saber de nada. Não sou de reviravoltas inesperadas, mas tenho horror à estabilidade do comodismo. Gosto do surpreendente. Do entorpecente. Do amor que de tão forte chega a machucar. Almejo o quase impossível. Sonho com o mundo do outro lado da rua. Sinto saudades antecipadas e tardias do chão que piso, tão íntimo, tão meu.
Guardo um coração que depois de tanta risada, começou a chorar. Bem de leve, discretamente, aos poucos se derrete em mil, em um, em nada. Tenho a estagnação do mundo num bolso, um par de asas na mão. Só não aprendi ainda a voar.
Tenho pavor da rotina. Sei que quanto mais naturais são as coisas que fazemos, quanto mais seguimos um determinado ritmo, chegamos mais perto do ponto da vida que ficamos cara a cara com o enjôo e o desespero. Tenho medo antecipado. Muito.
Se nunca tive curvas na vida e por isso não pude aprender a ser eu, não tenho culpa. Preocupo-me diariamente em parar de perseguir minha sombra. Calar os meus botões. Não perder de vez minhas lágrimas.

não briga não, não assusta. só me deixa ter meu medo sozinha. em paz (?)

domingo, 1 de junho de 2008


Me deixa ser que tá faltando espaço aqui dentro pra mim.
Quem me dera poder dizer tudo o que eu ainda não sei.

e de agora em diante...?

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Eu choro, sabe? Choro sim, choro muito.
A pureza e a verdade de um choro não consistem nas lágrimas derramadas nem num grito muitas vezes forçado. Não molda um rótulo pra tua vida que ele te domina.
Não tenta se encaixar em algum lugar que é feio. Não força que é triste.

Esse aperto constante, meu, teu, do vizinho e de Deus, faz parte sabe? Não reclama que pior é a ausência da dor, a ausência do pulso, a falta da voz. Não pede pelo estável, que Deus não vai dar risada contigo.

O que é intocável não é natural, ninguém se identifica com a perfeição.

sábado, 3 de maio de 2008


dança junto com tudo o que dança.
não importa se conforme a música ou não, mas dança, que ainda que sopre forte demais, o vento gosta de quem dança.
ele só não sabe é demonstrar.
vento bobo, criança.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Quem escreve mente. Não adianta dizer que não, porque mente. Cria, fantasia, incrementa, esconde, aumenta um ponto e não conta conto, qualquer coisa que faça; mente.Porque a realidade é chata demais. M-O-N-Ó-T-O-N-A. É crua, é nada, e aí não serve pra escrever porque o nada chega a ser a ausência da ausência, uma neblina branca sem sal, não serve.

Ah, mente sim, não nega.

terça-feira, 8 de abril de 2008


se o mundo se perdeu ou foi a gente que se perdeu do mundo não importa, não é isso. se estamos condicionados a andar sempre reto, ou é o fato de andarmos reto que nos condiciona a ter medo das curvas, não importa. se temos essa mania escapista de buscar em coisas externas a ausência de dentro, mesmo sabendo que não é ali que residem, deixa pra lá. a vida se encarrega da nossa vida e põe tudo no lugar. e acaba pondo mesmo, não importa se deixamos de ter fé quando deveríamos ou se fomos fracos no ápice da luta. acredita que a vida põe, porque esse é o natural das coisas e elas não fogem tanto do ritmo como queríamos acreditar. e se é natural só deixa ser que tá bom.
mas não é isso também. não é o futuro que poderá cair em qualquer abismo de sonhos, nem o passado arrependido. não é o excesso de preocupação nem a insegurança de bater em portas desconhecidas. se amanhã assusta por ser duro e mais bonito do que caberia, não importa.
preocupações e medos súbitos não suprem mais a fome da falta. se temos medos, angústias, dores e mal-estares interiores, não importa, não é isso. por pior que fosse seria normal. o problema é esse caminhar constante e imutável de um ser tão mutante que não cabe e não sacia a si mesmo, sempre seguindo rumo ao instante duro de algo que não tem nome, de uma montanha inacessível que foi equivocadamente apelidada de agora. de hoje, de já, tão, eu.
e não era isso também.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Tenho criado um coração mimado.
É uma espécie de mimo diferente, já que não se deve ao excesso de amor, e sim à falta. Não à falta de amor-próprio, embora um pouquinho mais dessa fosse vista com bons olhos, não é a essa falta que me refiro. Meu coração é mimado pelo costume que eu adquiri durante todo esse tempo – que não sei se realmente existiu fora de mim, ou foi só o furacão que tem transitado aqui dentro. O fato é que tenho mimado meu coração com a dor. E não é que a dor esteja sendo inventada, multiplicada e cultivada, intencionalmente, simplesmente porque ele precise de alguma espécie de movimento para continuar sentindo vontade de bater.
Por tempo demais me alimentei dos dias cinzentos, que com o passar dos dias (que duravam séculos) iam sendo substituídos por qualquer outra coisa do gênero que fosse suficiente. Tentei a chuva incessante, o frio que vinha para ficar, o calor que não tocava, minha incapacidade de sair do lugar. Pus culpa na falta de intensidade, no excesso dela, na falta de amor, no excesso dele em mim, culpei a mim mesma por não saber quem realmente sou, sem perceber que de fato ninguém sabe, a diferença é que os outros são inteligentes o suficiente pra não ficar surtando por causa disso, ou não são inteligentes ao ponto de pensar sobre isso, não importa como eu defina, são os outros e não andam psicologicamente arcados com uma alma velha e cansada.
Sei que não posso, gênios da lâmpada à parte, o que eu queria mesmo era parar de pensar por um dia. Viver mesmo, inconsequentemente, não preciso de loucuras extremas nem nada, simplesmente sem pensar no movimento da vida, da roda, de qualquer coisa. Sem pensar em mim, dentro de mim, na diferença, na agonia,

segunda-feira, 10 de março de 2008

Meu Pai,
perdoa eu ainda não ter achado o caminho para te sentir dentro de mim. Perdoa as raras vezes em que acreditei profundamente que estavas comigo não terem tido a naturalidade que deveriam.
Me dê forças Senhor, para viver 24 horas por dia sendo eu mesma, com o caminhão de coisas que isso traz. Me ajuda a não perder nunca a capacidade de sonhar, de sorrir sem esse peso que me acompanha pra tudo quanto é canto.
Me ajuda a não perder a beleza da vida, da felicidade e das crianças.
Me dá coragem Pai, para dar a volta por cima de mim mesma e mudar. Me dê alma e muita coragem.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso." (Caio F.)

Que droga essa ausência. Falta alguma coisa que eu nunca tive, como uma perna que eu não perdi mas que deixou uma dificuldade enorme. Me vem aquela vontade idiota de sair na rua sem um pedaço, como se fosse algo bonito, para que sintam pena, para que reparem, não em mim, mas na minha ausência, já que esse buraco gigante que eu carrego aqui dentro é imperceptível até pros meus olhos.
Não, eu não tenho dragões aqui comigo, não tenho asas e o vento não sopra mais. Já é natural sentir certo companheirismo com os dias cinzas, com as almas doídas, com a falta de força e com o desespero. Aquele desespero que não grita, que se perde no silêncio, que não tem nem um olhar, quanto mais palavras pra demonstrar tudo o que atormenta.
Não é estranho que ainda assim a gente brinque que nem criança? e que vez em quando consiga esquecer absolutamente tudo?

"A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão." (Caio F. também, claro.)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

quis escrever

Quis escrever uma coisa meio trágica assim. Não trágica no sentido que pudesse magoar alguém, ou impressionar, ou simplesmente surpreender. Não, não era com o intuito de ser notada por ninguém. Eu quis escrever uma coisa bem doída, não pra magoar nem fazer ninguém chorar, não pra doer outro coração da maneira como dói esse daqui. Quis de repente escrever algo doce, pra despertar um sorriso, um fiozinho de esperança em algum coração que já estivesse perdido, mas eu sabia que não tinha essa capacidade. Não com tamanha agonia latejando aqui dentro. Quis escrever uma coisa meio trágica assim, de um modo que fosse suficiente e que fosse capaz de esticar meu coração no papel, para que não faltasse nem um pedaço incompreendido, para que nada ficasse de lado esperando o momento certo para dar o bote. Quis escrever um manual de compreensão, não para alguém que num futuro distante despertasse a vontade de me entender a fundo, mas para mim mesma. Foi aí que surgiu a vontade de escrever algo meio trágico assim. E repetitivo, porque era assim que eu me sentia.Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Nem que eu repetisse mil vezes seria capaz de transmitir o tamanho dele aqui dentro. Muito menos a sua intensidade. Meio irônico, eu diria se me perguntassem, pra não quebrar tudo de vez dizendo que era apenas uma piada de mau gosto. Logo eu, que sempre implorei pela tal da intensidade, me vi reclamando do excesso dela na minha vida. É que não era essa intensidade pela qual eu tanto rezava, entende? Não que eu já tivesse rezado por ela, porque eu sempre achei que seria egoísmo da minha parte. Assim como não era essa intensidade, não era também essa a paz que eu tanto queria. Paz fria e esmagadora dos cemitérios, como quando nada de interessante acontece, e tudo o que antes era grande acaba fazendo parte de uma rotina meio monótona, de um jogo que a gente já cansou de jogar faz algum tempo. Se houvesse horizonte talvez a gente arranjasse forças pra continuar a jogar.
Como se de repente surgisse uma onda na minha frente, monstruosa e imponente, e varresse consigo qualquer indício de futuro promissor. É que eu não queria pena de ninguém, nem aquele olhar de tristeza, por isso que eu me deixava envolver pela tal onda. Por isso que eu ainda me deixo. Eu queria escrever alguma coisa meio trágica assim, pra pôr tudo pra fora de uma vez.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Oi. To precisando de ti. Quero sentir tua mão pelo meu cabelo, me acalmando daquele jeito que só tu sabes e que eu nunca pude sentir. Preciso do teu olhar compreensivo que nunca pousou sobre o meu. Da tua capacidade única de transformar todas as minhas incertezas em sonhos a serem realizados. Do teu sorriso que nunca me levou para um mundo além desse que eu conheço.
Preciso daquele teu abraço forte, que traz certeza e calma, que traz verdade e dá razão a tudo, sentimento que eu nunca pude desfrutar. Quero sentir contigo o tempo voar e não ter importância, mas tudo o que eu escuto é o tic-tac cada vez mais forte. Tenho urgência de ti que eu nunca encontrei, que eu nunca esbarrei na esquina, nunca achei perdido numa festa. Preciso do sonho que não és pra mim, pois me mantenho constantemente acordada.
Ando com uma ânsia de aprender todas as coisas que não me ensinastes, revives todas as nossas lembranças que eu não tenho. Quero te contar sobre o meu dia, sobre o que eu comi, com quem eu falei. Quero te dizer que tinham nuvens fofas no céu, e ainda assim eu me sentia presa numa névoa meio cinza. Dizer que o dia hoje passou devagar porque não pude ouvir tua voz que não sei se é doce ou forte. Contar tudo o que eu vi pela rua, que músicas escutei e que livros ando lendo.
Preciso da tua presença que preenche essa ausência seca que eu sempre carreguei nas duas mãos.



"Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um Caminho" (Caio F.)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Saber não significa, na verdade, entender, já que parece que quanto mais sabemos, entendemos muito menos. E quanto mais entendemos, menos a gente sabe. Não que isso faça algum sentido.
Céu azul, quente lá fora, não queria me tornar eu mesma de novo dizendo que isso não condiz com a temperatura aqui de dentro. Ou talvez seja tão quente que se torna frio, como se fosse o oposto do frio que queima, ou quem sabe ele mesmo. Não que eu sinta de fato, alguma coisa além da insuficiência, já que ela, tão disforme e confusa, não tem ao certo uma temperatura real.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Minhas asas se quebraram

A melancolia bateu na porta e eu não recuso mais. Entrou coração adentro com sua petulância, imponente, chutando todos os sorrisos tolos que via pela frente. E foi aí que minhas asas se quebraram. No meio do alvoroço causado por esse cinza nostálgico, minhas asas não tiveram mais forças pra continuar com forças. E sem forças então se quebraram.
Gozado o cinza que se instala com um sol de rachar lá fora. Até o sol se sente sozinho hoje, eu acho.
Contando assim parece que o processo foi simples, que a aceitação foi leve. Passamos a vida inteira sonhando e sonhando e sonhando, e ao percebermos o nada que domina, choramos frio no chão sujo. Choramos seco, de tão sós.
E afinal de contas temos um tudo repleto de nada, um nada repleto de tudo, ou seja lá o que for. As incertezas e incompreensões se misturam com os cacos de asa espalhados pelo chão, que não foram nem ao menos recolhidos. Ninguém se deu ao trabalho. Jogados assim eles parecem vidro. Sujos, embaçados, afiados. Feios.
Já não tenho mais as asas pra contar história, nem posso então falar mais delas. Aos poucos, não posso mais falar de nada, e acho que é tudo o que resta.

Já cansei também de metáforas, até elas andam soando vazias. Engraçado esse tal de vazio, sempre acha um jeitinho de se alastrar e se estender um pouquinho mais, dominando tudo com a sua feiúra. Queria mesmo era um letreiro bem grande, com letras garrafais e luminosas, pra colar na minha testa o que eu sinto. Mas o letreiro seria vazio não seria?
-Pisa no chão, olha pra frente, deixa de reclamar pelo nada!- Porque esse coração quebrado não escuta? Porque essa coisinha pequena e machucada se recusa a escolher o caminho menos doloroso? Qual é a dele afinal? Coração tolo!
Me pergunto de onde surgiu esse idealismo que mata. Esses sonhos tão altos que me põem tão baixo. Esses sonhos que ao mesmo tempo não são sonhos, pois não têm apoio para chegar até as nuvens. Minhas asas se quebraram.
Como vidro afiado.