
Minha vida de livro aberto durou pouco, a simplicidade do caminhar leve e do sorriso sem culpa partiu levando consigo o conforto que nunca existiu. Pelo medo da imobilidade, permaneci cada vez mais imóvel. Pelo susto e anseio de ser, fui cada vez mais. Mais ausência de mim mesma?
Minha mente acelera de tal forma, que o que por natureza localiza-se abaixo dela não é capaz de sentir. Incompatibilidade dói. Enquanto esses pensamentos voam em segundos e alcançam pontos inimagináveis, permaneço parada. Como pode haver um jeito de saber tanta coisa sem de fato compreender nada?
Ganho horas olhando a enormidade de um céu que, apenas por colorir-se de cinza nos dias difíceis, já foi acusado de culpa por tanta coisa, inclusive vinda de mim. Hoje sinto um mundo por trás dele mais amplo do que o que existe no azul. Pois se o que existe pra mim está lá fora, não é olhando pro que é concreto e seco que conseguirei mudar. De tanto que já pedi por essa concretude de tudo, não a quero mais, não suporto a idéia das coisas serem aquilo e ponto, sem mundos por trás, sem fantasias, sem pensamentos ou corações. Aprendi a gostar do que não existe, para talvez poder gostar do que mora dentro de mim.
As pessoas vão procurando, tentando entender cada vez mais, perdendo dias e perdendo vidas em busca de algo que não pode ser encontrado se quisermos que a vida continue a sorrir. E se tivéssemos as respostas de tudo?
Não sei, tão frio... não quero mais, ao menos hoje. Que não me doa hoje o medo de que o medo de alguma ausência possa me impedir de olhar para além de mim. Que não me assuste o fato de que sou e não sei nada sobre isso, e que eu saiba alimentar-me dessa busca eterna e constante sempre sem respostas sem necessariamente sentir fome o tempo todo. Mas que a fome não suma para que eu não me acostume a não saber. Que eu entenda hoje e sempre que não entender é uma dádiva para poucos. Ter a consciência transparente de que há muito para ser compreendido e conhecido, e de que é tudo inalcançável. E que essa beleza e essa doçura das coisas não me corroa mais. Que eu possa sentir o frio sem chorar, mas que as lágrimas caiam vez em quando. Que elas não me deixem só.
4 comentários:
É como voltar a ser criança e compreender a maravilha por trás daquele brinquedo no qual adulto nenhum decifra graça ou o que quer que seja. Te vejo assim, exposta em palavras, ouço tua voz no telefone, leio algo melancólico contigo, te ouço rir até chorar e chorar pra depois rir. Olho pra ti, olho pra mim. Olho pra ela, como a gente. Tenho medo por ti, por mim, por ela. Temo por nós e a causa sequer é a dor.
Nos últimos tempos a ausência daquela gota salgada escorrendo livremente pela face tem assustado tanto, que eu sequer tenho conseguido sentir o peso de todo o intangível de sempre. Aqui dentro, e eu acredito que aí também, mora algum tipo de ser estranho, talvez monstruoso, o qual acorda quando quer sem perguntar se a hora é boa ou ruim. Ele adormeceu por um bom tempo, eu sei. Aí eu venho até aqui com os últimos resquícios desse veneno que corroe por dentro, sem esperanças - feliz ou triste? - de que ele faça arder em mim de novo tudo o que sempre ardeu e fez parte.
"Que as lágrimas caiam vez em quando". Vez em sempre dói demais, mas vez em nunca é tão o oposto de mim mesma que eu não suporto. Parar de me engolir foi um erro ou a escolha mais certa da minha vida? E porquê me sinto na garganta vez ou outra mesmo assim?
Queria vir com respostas, mas compreendes melhor do que ninguém que elas talvez não fossem bem-vindas. E não as tenho. Venho com mais perguntas, mais dores, mais dúvidas e escuridão.
É, et. Quem sabe de mãos dadas os olhos vejam um pouco além do concreto sem luz.
"Que eu possa sentir o frio sem chorar, mas que as lágrimas caiam vez em quando. Que elas não me deixem só."
Nunca, que elas nunca deixem só, não só a ti, mas a mim, a nós...
Grande texto..ilustrações supimpas...blog adorável.
Beijão
James
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