"Meu grito foi tão abafado que só pelo silêncio contrastante percebi que não havia gritado. O grito ficara me batendo dentro do peito”. C.L.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Foi mais uma história jogada fora. Folha perdida no vento, aos poucos virou pó sob os olhos inexistentes de alguém que quisesse ver. Tempo?
Minha vida de livro aberto durou pouco, a simplicidade do caminhar leve e do sorriso sem culpa partiu levando consigo o conforto que nunca existiu. Pelo medo da imobilidade, permaneci cada vez mais imóvel. Pelo susto e anseio de ser, fui cada vez mais. Mais ausência de mim mesma?
Minha mente acelera de tal forma, que o que por natureza localiza-se abaixo dela não é capaz de sentir. Incompatibilidade dói. Enquanto esses pensamentos voam em segundos e alcançam pontos inimagináveis, permaneço parada. Como pode haver um jeito de saber tanta coisa sem de fato compreender nada?
Ganho horas olhando a enormidade de um céu que, apenas por colorir-se de cinza nos dias difíceis, já foi acusado de culpa por tanta coisa, inclusive vinda de mim. Hoje sinto um mundo por trás dele mais amplo do que o que existe no azul. Pois se o que existe pra mim está lá fora, não é olhando pro que é concreto e seco que conseguirei mudar. De tanto que já pedi por essa concretude de tudo, não a quero mais, não suporto a idéia das coisas serem aquilo e ponto, sem mundos por trás, sem fantasias, sem pensamentos ou corações. Aprendi a gostar do que não existe, para talvez poder gostar do que mora dentro de mim.
As pessoas vão procurando, tentando entender cada vez mais, perdendo dias e perdendo vidas em busca de algo que não pode ser encontrado se quisermos que a vida continue a sorrir. E se tivéssemos as respostas de tudo?
Não sei, tão frio... não quero mais, ao menos hoje. Que não me doa hoje o medo de que o medo de alguma ausência possa me impedir de olhar para além de mim. Que não me assuste o fato de que sou e não sei nada sobre isso, e que eu saiba alimentar-me dessa busca eterna e constante sempre sem respostas sem necessariamente sentir fome o tempo todo. Mas que a fome não suma para que eu não me acostume a não saber. Que eu entenda hoje e sempre que não entender é uma dádiva para poucos. Ter a consciência transparente de que há muito para ser compreendido e conhecido, e de que é tudo inalcançável. E que essa beleza e essa doçura das coisas não me corroa mais. Que eu possa sentir o frio sem chorar, mas que as lágrimas caiam vez em quando. Que elas não me deixem só.

4 comentários:

Isadora Cecatto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Isadora Cecatto disse...

É como voltar a ser criança e compreender a maravilha por trás daquele brinquedo no qual adulto nenhum decifra graça ou o que quer que seja. Te vejo assim, exposta em palavras, ouço tua voz no telefone, leio algo melancólico contigo, te ouço rir até chorar e chorar pra depois rir. Olho pra ti, olho pra mim. Olho pra ela, como a gente. Tenho medo por ti, por mim, por ela. Temo por nós e a causa sequer é a dor.
Nos últimos tempos a ausência daquela gota salgada escorrendo livremente pela face tem assustado tanto, que eu sequer tenho conseguido sentir o peso de todo o intangível de sempre. Aqui dentro, e eu acredito que aí também, mora algum tipo de ser estranho, talvez monstruoso, o qual acorda quando quer sem perguntar se a hora é boa ou ruim. Ele adormeceu por um bom tempo, eu sei. Aí eu venho até aqui com os últimos resquícios desse veneno que corroe por dentro, sem esperanças - feliz ou triste? - de que ele faça arder em mim de novo tudo o que sempre ardeu e fez parte.

"Que as lágrimas caiam vez em quando". Vez em sempre dói demais, mas vez em nunca é tão o oposto de mim mesma que eu não suporto. Parar de me engolir foi um erro ou a escolha mais certa da minha vida? E porquê me sinto na garganta vez ou outra mesmo assim?

Queria vir com respostas, mas compreendes melhor do que ninguém que elas talvez não fossem bem-vindas. E não as tenho. Venho com mais perguntas, mais dores, mais dúvidas e escuridão.
É, et. Quem sabe de mãos dadas os olhos vejam um pouco além do concreto sem luz.

Luiz Carlos disse...

"Que eu possa sentir o frio sem chorar, mas que as lágrimas caiam vez em quando. Que elas não me deixem só."

Nunca, que elas nunca deixem só, não só a ti, mas a mim, a nós...

antes que a natureza morra disse...

Grande texto..ilustrações supimpas...blog adorável.
Beijão

James