"Meu grito foi tão abafado que só pelo silêncio contrastante percebi que não havia gritado. O grito ficara me batendo dentro do peito”. C.L.

sábado, 21 de junho de 2008


Andando sozinha por aquela rua desenhada em cores de outono, alheia à chuva que aumentava e à noite que rompia o silencio da movimentação exterior, ela pôde parar e esboçar um sorriso, sem medo de quebrar o movimento, sem medo de parecer tola, seu sorriso ia crescendo à medida que a chuva aumentava, porque quando o céu escorria em lágrimas a perplexidade por poder ver o mundo inteiro, de cima, tal como ele é, limpava-lhe a alma e deixava-a livre para sorrir, não que estivesse feliz, também já não estava mais perdida, nada chegava a fazer sentido e ela finalmente sentia-se serena, parada ali na chuva, sorrindo, besteira, o tempo passava, os rostos mudavam, a chuva diminuía e abria espaço para o vento frio e cortante, ela, porém, não sabia como se movimentar, não que seus pés estivessem atados ao chão, não que estivesse com frio, mas tinha medo que um movimento brusco pudesse interromper o – agora já antigo- ímpeto de sorrir, e além disso não sabia para onde direcionar seus pés, não acreditava mais na força que poderiam ter os pés que ela já não enxergava pois não conseguia movimentar a cabeça, quem sabe com um pouco de esforço conseguisse até se mexer, mas não ousaria, há tanto tempo não ousava, seus olhos focados, afogados em um ponto indefinido, tomados pelo susto da situação, inertes por um brilho estático que há muito ela acreditava ter partido, os rostos já não passavam, a chuva cessara e transferira-se para dentro de seu corpo, não que ela chorasse, desaprendera a arte, e de repente o vento soprou um pouco mais forte, mudou de direção e ela pôde andar, o sol nascia escondido por trás de tantas nuvens, não apareceria o dia inteiro, ela bem sabia, mas já conseguia andar pela rua deserta desenhada de medo, parecia ter fome, andando sozinha pela crueza de si mesma, sem ver o sol, sem sentir.

terça-feira, 10 de junho de 2008


"Ah, se fosse como a gente quer...
Ah, e se o planeta explodir, eu quero que seja em plena manhã de domingo, e que eu possa assistir."

Não sou de sair gritando por aí, embora minha alma quisesse vez ou outra expandir ao máximo a agonia de ser tudo e não saber de nada. Não sou de reviravoltas inesperadas, mas tenho horror à estabilidade do comodismo. Gosto do surpreendente. Do entorpecente. Do amor que de tão forte chega a machucar. Almejo o quase impossível. Sonho com o mundo do outro lado da rua. Sinto saudades antecipadas e tardias do chão que piso, tão íntimo, tão meu.
Guardo um coração que depois de tanta risada, começou a chorar. Bem de leve, discretamente, aos poucos se derrete em mil, em um, em nada. Tenho a estagnação do mundo num bolso, um par de asas na mão. Só não aprendi ainda a voar.
Tenho pavor da rotina. Sei que quanto mais naturais são as coisas que fazemos, quanto mais seguimos um determinado ritmo, chegamos mais perto do ponto da vida que ficamos cara a cara com o enjôo e o desespero. Tenho medo antecipado. Muito.
Se nunca tive curvas na vida e por isso não pude aprender a ser eu, não tenho culpa. Preocupo-me diariamente em parar de perseguir minha sombra. Calar os meus botões. Não perder de vez minhas lágrimas.

não briga não, não assusta. só me deixa ter meu medo sozinha. em paz (?)

domingo, 1 de junho de 2008


Me deixa ser que tá faltando espaço aqui dentro pra mim.
Quem me dera poder dizer tudo o que eu ainda não sei.

e de agora em diante...?