"Meu grito foi tão abafado que só pelo silêncio contrastante percebi que não havia gritado. O grito ficara me batendo dentro do peito”. C.L.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Minhas asas se quebraram

A melancolia bateu na porta e eu não recuso mais. Entrou coração adentro com sua petulância, imponente, chutando todos os sorrisos tolos que via pela frente. E foi aí que minhas asas se quebraram. No meio do alvoroço causado por esse cinza nostálgico, minhas asas não tiveram mais forças pra continuar com forças. E sem forças então se quebraram.
Gozado o cinza que se instala com um sol de rachar lá fora. Até o sol se sente sozinho hoje, eu acho.
Contando assim parece que o processo foi simples, que a aceitação foi leve. Passamos a vida inteira sonhando e sonhando e sonhando, e ao percebermos o nada que domina, choramos frio no chão sujo. Choramos seco, de tão sós.
E afinal de contas temos um tudo repleto de nada, um nada repleto de tudo, ou seja lá o que for. As incertezas e incompreensões se misturam com os cacos de asa espalhados pelo chão, que não foram nem ao menos recolhidos. Ninguém se deu ao trabalho. Jogados assim eles parecem vidro. Sujos, embaçados, afiados. Feios.
Já não tenho mais as asas pra contar história, nem posso então falar mais delas. Aos poucos, não posso mais falar de nada, e acho que é tudo o que resta.

Já cansei também de metáforas, até elas andam soando vazias. Engraçado esse tal de vazio, sempre acha um jeitinho de se alastrar e se estender um pouquinho mais, dominando tudo com a sua feiúra. Queria mesmo era um letreiro bem grande, com letras garrafais e luminosas, pra colar na minha testa o que eu sinto. Mas o letreiro seria vazio não seria?
-Pisa no chão, olha pra frente, deixa de reclamar pelo nada!- Porque esse coração quebrado não escuta? Porque essa coisinha pequena e machucada se recusa a escolher o caminho menos doloroso? Qual é a dele afinal? Coração tolo!
Me pergunto de onde surgiu esse idealismo que mata. Esses sonhos tão altos que me põem tão baixo. Esses sonhos que ao mesmo tempo não são sonhos, pois não têm apoio para chegar até as nuvens. Minhas asas se quebraram.
Como vidro afiado.

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