Quis escrever uma coisa meio trágica assim. Não trágica no sentido que pudesse magoar alguém, ou impressionar, ou simplesmente surpreender. Não, não era com o intuito de ser notada por ninguém. Eu quis escrever uma coisa bem doída, não pra magoar nem fazer ninguém chorar, não pra doer outro coração da maneira como dói esse daqui. Quis de repente escrever algo doce, pra despertar um sorriso, um fiozinho de esperança em algum coração que já estivesse perdido, mas eu sabia que não tinha essa capacidade. Não com tamanha agonia latejando aqui dentro. Quis escrever uma coisa meio trágica assim, de um modo que fosse suficiente e que fosse capaz de esticar meu coração no papel, para que não faltasse nem um pedaço incompreendido, para que nada ficasse de lado esperando o momento certo para dar o bote. Quis escrever um manual de compreensão, não para alguém que num futuro distante despertasse a vontade de me entender a fundo, mas para mim mesma. Foi aí que surgiu a vontade de escrever algo meio trágico assim. E repetitivo, porque era assim que eu me sentia.Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Vazio. Nem que eu repetisse mil vezes seria capaz de transmitir o tamanho dele aqui dentro. Muito menos a sua intensidade. Meio irônico, eu diria se me perguntassem, pra não quebrar tudo de vez dizendo que era apenas uma piada de mau gosto. Logo eu, que sempre implorei pela tal da intensidade, me vi reclamando do excesso dela na minha vida. É que não era essa intensidade pela qual eu tanto rezava, entende? Não que eu já tivesse rezado por ela, porque eu sempre achei que seria egoísmo da minha parte. Assim como não era essa intensidade, não era também essa a paz que eu tanto queria. Paz fria e esmagadora dos cemitérios, como quando nada de interessante acontece, e tudo o que antes era grande acaba fazendo parte de uma rotina meio monótona, de um jogo que a gente já cansou de jogar faz algum tempo. Se houvesse horizonte talvez a gente arranjasse forças pra continuar a jogar.
Como se de repente surgisse uma onda na minha frente, monstruosa e imponente, e varresse consigo qualquer indício de futuro promissor. É que eu não queria pena de ninguém, nem aquele olhar de tristeza, por isso que eu me deixava envolver pela tal onda. Por isso que eu ainda me deixo. Eu queria escrever alguma coisa meio trágica assim, pra pôr tudo pra fora de uma vez.
"Meu grito foi tão abafado que só pelo silêncio contrastante percebi que não havia gritado. O grito ficara me batendo dentro do peito”. C.L.
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