eu só queria poder pegar tudo isso que te aflige e guardar aqui dentro de mim. não me importa o tamanho da dor, os labirintos infindáveis que ela - tenho certeza - traz consigo, não me importam os monstros que ela cultiva, os medos com os quais ela te faz conviver, eu quero tudo pra mim. eu só queria poder ter abraçar tão forte que puxasse de ti todas tuas energias ruins, toda tua insegurança, todos os buracos nos quais tentas desesperadamente não cair, dia após dia, hora após hora. eu quero cair no teu lugar.
porque eu podia esperar de qualquer um essa desistência, eu podia aceitar e aprender a conviver com qualquer dor que abatesse sobre qualquer outra pessoa, mas não em ti, nunca em ti, pois se sempre foram tão bonitas as nossas risadas, e sempre foi tão brilhante a tua presença, por que agora assim meu Deus, por que tão frio e tão fraco e tão desesperador assim tão de repente? quando o sol invade a minha - por que não? - alma, sim hoje em dia arrisco um clichê ou outro porque simplesmente tenho acreditado um pouco mais neles, e quando isso acontece, nos últimos tempos, tudo o que quero é expulsá-lo com tanta força de dentro de mim que ele consiga atingir com tal intensidade teu coração, que ele ilumine tua alma ao invés do meu caminho, porque eu só queria que você se encontrasse mais uma vez em alguma coisa, eu só queria poder te dar essa luz, essa paz, não é que eu as tenha, mas meu Deus como eu queria tê-las para então poder te entregar nas mãos, assim como se fosse um bebê recém-nascido segura essa paz e essa força e essa esperança com muito cuidado, embala-as assim devagarzinho, um lado depois outro, depois um lado, depois o outro, vai aos pouquinhos absorvendo qualquer coisa, acreditando em qualquer coisa, ou pelo menos só as segura, mas segura com força, qualquer coisa para você se apoiar e não e cair e não sangrar mais uma vez.
eu só queria poder estar no teu lugar. porque eu sei que seria mais justo, mais equilibrado. porque o que tem aqui dentro já passou por tanta coisa, já esteve por tanto tempo assim no escuro, que um medo a mais não faria tanta diferença, e mesmo se fizesse, se fosse carga demais pra mim, não interessa, seria em mim e não estaria comprometendo essa tua pureza sempre tão espontânea, eu acho que acredito no que tem aqui dentro, escondido em algum lugar há certa força, há qualquer coisa na qual eu consigo me agarrar, deixa eu pegar essa tua dor e guardar em mim, eu tenho qualquer coisa de fé, mesmo dentro da insegurança mais intensa, mesmo dentro de todos esses medos, existe em mim alguma coisa que é mais forte e mais consistente, não, também não sei aindo o que é, sempre quis que alguém me explicasse como que naquela época eu não senti vontade de me atirar pela janela, mas eu não senti, e se senti não o fiz, e por isso sei que hoje não o faria nem amanhã e nem depois, e por isso queria tanto pegar tudo isso de ti, porque eu aguento, não me entenda mal, não quero dizer que sou mais forte ou que você não é capaz, mas te acho tão bonita e tão pequena, e te quero tão feliz, que não consigo olhar hoje pra ti e não ter essa vontade intensa quase sufocante de pegar tudo o que te assusta e esconder em mim, porque eu até que sei esconder bem, eu já lidei com muito peso e acho que talvez ainda possa lidar, eu dou um jeito de desabafar ainda que seja só pra mim, eu consigo soltar a falta de ar e guardar esse desespero um pouquinho mais fundo, e mesmo quando eu o deixo submergir e tomar conta da minha sanidade, eu posso fazer qualquer coisa como escrever, fingir chorar pra aliviar, respirar um pouco mais fundo e um pouco mais, gritar tanto que quase muda ou apenas silenciar mais um pouco, qualquer coisa que alivie, mas eu sei que eu tomo conta, que eu dou um jeito, por favor, eu só queria pegar tudo o que te assusta e te machuca e guardar auqi dentro. um pouco a mais, um pouco a menos, eu sei que eu aguento. deixa eu te dar um pouquinho dessa fé e dessa minha vontade de ver o que vai acontecer daqui pra frente, aceita nem que precises de toda a esperança que tenho cultivado insistentemente durante esses anos, porque hoje acredito em qualquer coisa como um futuro, e quero pagar pra ver, paga também, eu pago pra ti, queira saber o que vai acontecer, queira estar com os olhos bem abertor pra ver aonde tudo isso vai dar, pra sentir o cheiro do que é deixar de ser o que se é, ainda que nunca deixemos, mas fica acordada, para de sangrar tanto assim, de forma tão fria, eu só queria ver em ti um pouquinho mais de amor, porque o amor que existe em tua volta é tão imenso e tão protetor que só quer te cuidar e te colocar no colo e te embalar pra sempre, pra te ver crescer, pra te ver viver. deixa acontecer.
"Meu grito foi tão abafado que só pelo silêncio contrastante percebi que não havia gritado. O grito ficara me batendo dentro do peito”. C.L.
sábado, 4 de dezembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
"Pra Ana C. e Caio e todos nós,
Era preciso fazer alguma coisa
pesquisar todas as malhas dos signos
os mapas. os indícios até achar
era preciso estudar
atentamente os orixás
a possibilidade de viajar
tentar o mar
era preciso escutar
Keith Jarret suavemente
sem se afogar
um som, um meio tom, um quadro na parede
luz de neon, e abrir um verde escandaloso na parede
paisagem que não se vê.
Por que você?
Por que não qualquer um de nós que já tentamos tudo
que nos drogamos profundamente conscientes
perdidos no urbano da cidade
os olhos úmidos, a sensibilidade
de um nervo exposto, nos sentimos
metade depois.
Você devia ter se segurado em alguma coisa
uma moda, um discurso, uma ideia de si mesma
- uma paixão que fosse-
qualquer coisa
um mito, um guru, uma política
uma revolução, uma mentira
sei lá, alguma coisa pra se agarrar
talvez uma amiga como ela
um patamar
alguma coisa
antes de cair devagar
pela janela."
Bruna Lombardi
Era preciso fazer alguma coisa
pesquisar todas as malhas dos signos
os mapas. os indícios até achar
era preciso estudar
atentamente os orixás
a possibilidade de viajar
tentar o mar
era preciso escutar
Keith Jarret suavemente
sem se afogar
um som, um meio tom, um quadro na parede
luz de neon, e abrir um verde escandaloso na parede
paisagem que não se vê.
Por que você?
Por que não qualquer um de nós que já tentamos tudo
que nos drogamos profundamente conscientes
perdidos no urbano da cidade
os olhos úmidos, a sensibilidade
de um nervo exposto, nos sentimos
metade depois.
Você devia ter se segurado em alguma coisa
uma moda, um discurso, uma ideia de si mesma
- uma paixão que fosse-
qualquer coisa
um mito, um guru, uma política
uma revolução, uma mentira
sei lá, alguma coisa pra se agarrar
talvez uma amiga como ela
um patamar
alguma coisa
antes de cair devagar
pela janela."
Bruna Lombardi
sábado, 11 de setembro de 2010
"Eu permaneci e isso foi diferente, triste, insuportável, mas possível. Como os mortos que ficam em qualquer lugar, até mesmo embaixo da terra. Morto não deseja e por isso mesmo permanece. Acho que seu desejo morreu e talvez o meu também, já que boa parte desse amor enorme que eu sentia e sinto por você, vinha e venha da minha alegria desmesurada em me sentir amada pelos meus próprios sonhos. Você encerrava em mim eu mesma e era uma loucura tudo, como eu sentia, como eu queria me vomitar e ensanguentar e explodir e rodopiar em mim até furar o chão como uma broca desgovernada e depois sair derrubando o mundo como o único pião que sabe a verdade e precisa chacoalhar seu entorno pra não enlouquecer sozinho. Era uma loucura tudo. Mas a morte, o fim, nós, andando calmos, ao lado um do outro, isso me permitiu estar de alguma forma sem querer habitar cada instante do estar e para isso me retirando o tempo todo. E isso pode ser viver mas viver é terrível. E antes, quando eu não sabia viver e me sentia amada, era ainda mais terrível. Daí que sobra essa sensação de uma solidão filha da puta mil vezes pois em nada dá pra ser com você. E tudo bem, não é você, nunca foi, mas escuta a maluquice: é que nada disso impede que eu sinta um amor absurdo por você.
Me peguei uma hora, olhando você, andar, tão feinho, seu ombro encolheu um pouco, cada dia que passa mais e mais é uma concha o que você se torna. Dessas que é mentira a pérola e o som do mar, mas eu os vejo, o tempo todo. Você andando desse seu jeito meio de louco, que chacoalha a cabeça. E se veste mal quando pouco se importa, eu sei, eu entendi. E a manga suja de café. A roupa bege da cor de tudo que é você. Você é tão errado e cheio de estragos. E me peguei olhando pra tudo isso e amando tanto, tanto, tanto. Como se nada mais no mundo fosse tão bonito ou correto ou mesmo perfeito porque perfeito é o que não tem mesmo cabimento. O resto nem existe porque vemos ou explicamos.
Na sua varanda sem céu, certa vez, você se sentou naquela cadeira sem fundo. Me colocou no seu colo e me deu o abraço que disparava corações em mim como se eu tivesse um em cada nó de veia. E me disse, com sua voz tão bonita, a mais bonita que eu já ouvi, que eu tinha subido todos os seus andares. Eu entendi que você era o homem da cobertura de aço e eu uma espécie rara de passarinho que tinha algum tipo de chave que se autodestruiria em poucos segundos. E eu entendi também que agora que tinha chegado ali, só me restava pular, já que ninguém aguenta o alto tão alto muito tempo. A vertigem que era o nosso amor."
Tati Bernardi
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
"Pelo menos, enfrenta. Como aquela, mentindo naturalidades com tamanha perfeição que até consegue dizer: sou simples. E diz a verdade quando mente. Não me venhas com Densas Complexidades Psicológicas. (...) Portas falsas, coração." C.F.
Peço, embora em silêncio, com todas as forças que ainda me restam: me perdoa. Meu erro é ser, não é e nem nunca foi intencional, sou desse jeito - o único que sei - há tempos, e sinto muito, meu amor, se parecia diferente. Eu tentei avisá-lo.Durante as noites em que olhei fundo em teus olhos de mar e tentei, com pouca força e talvez sem convicção nenhuma, explicar-lhe quem eu era, eu não exagerava. Sei que o exagero muitas vezes domina minhas palavras e faz algumas de minhas histórias parecerem estranhas, mas ele não deve ser levado em conta se, em algum momento, tento falar de mim. De quem sou, não do que faço. Porque até hoje, com toda a intensidade e a lucidez que conquistei, não sei o que eu seria. Ou talvez saiba, mas.Mesmo sem sentido, te peço perdão. As lágrimas travam em meus olhos e impedem que as palavras formem-se completas em minha boca. Se eu tivesse fé e arriscasse o ímpeto de me expressar, elas não fariam sentido algum. A fé que me falta não é em ti, meu amor. É em mim.Tenho um mundo de palavras e noites em claro que carrego sobre minhas costas, e está longe de ser simples. Se hoje escondo até de mim mesma, com que forças abriria meu coração para te contar? Como suportaria, depois que fosses embora, o peso e a dor de me reencontrar?Não sei se consigo, meu amor. Me perdoa. Eu queria ser um pouco mais fácil de se lidar.
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